O amor esfria na mesa

sábado, 26 de março de 2016


O amor esfria na mesa
Ele desce morno na garganta de quem o bebe
Não traz satisfação alguma


O amor apodrece, uma fruta bonita e esquecida
Um leite que azeda fora da geladeira
Fora dos cuidados de alguém


O amor endurece, um pão dormido de sete dias que é difícil de cortar
Passam manteiga nele, mas ele é seco, uma pedra
Não dá pra mastigar


O amor estraga, é jogado no lixo orgânico, embora ele seja reaproveitável.
Mas quem o joga é um tolo que nada sabe
Que só desperdiça
Tempo
Amor
Felicidade
Amizade
E outras coisas que não considera importante


***

O amor deve ser feito como café:
Encorpado, nem tão amargo, nem tão doce
E servido quente


Reflexos de ontem à noite

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Qual a forma mais prática e eficiente de se morrer nos dias de hoje? Você corta os pulsos, toma algum veneno, se entope de remédios ou usa uma arma? São vastas possibilidades, e eu não sei escolher a melhor para mim, embora há dias viva nesse dilema. Enquanto planejo meu suicídio, tento escrever meu último texto, aquele que talvez me alçará a uma fama póstuma. Mas, como vem acontecendo há meses, não consigo escrever nada relevante. Nem mesmo um bilhete de despedida.
Bem, por hora, não posso me suicidar. Minha vontade de redigir um texto que me desafie é maior que a de morrer. De qualquer jeito morrerei um dia, não preciso me preocupar. Não posso sair do mundo sem deixar um legado que me orgulhe. Agora, a melhor coisa a fazer é dormir para clarear minhas ideias. Tenho certeza que amanhã surgirá algo.
Depois de dormir por uns 20 minutos, o telefone me acorda.  Meia-noite em ponto. Amaldiçoando a pessoa, atendo.
Alô? Sim. Sim. O que aconteceu? Não entendi, acalme-se. Tá bem. Estou indo já para aí. Tchau.
Era a vizinha do meu irmão. Não quis me dizer nada pelo telefone, estava histérica. Corri para a minha moto e atravessei a cidade o mais rápido possível, pensando no que devia ter acontecido. James era o único familiar que me restara, apesar de não mantermos muito contato. De vez em quando eu visitava ele e sua esposa no domingo e assistíamos o futebol, ou conversávamos trivialidades sobre minha eterna condição de desempregado. Quando mamãe morreu, pareceu mais difícil convivermos sem um constrangimento tangente. Isto porque nunca gostamos um do outro, o que talvez causasse sensação de estranheza em todos que nos conheciam e percebiam a hostilidade de cara. Para eles, gêmeos tinham que se vestir iguais e serem amiguinhos. Mas a verdade era que apenas nos suportávamos.
Quando cheguei, todas as luzes da casa estavam acesas. Um carro patrulha encontrava-se estacionado na calçada. Ao abrir a porta, tudo pareceu muito surreal. A esposa de James chorando no sofá, abraçada com uma velha gorda (provavelmente a mulher que me ligou), um policial de pé, sem expressão, o cachorro do casal uivando. Aquilo não fazia parte da minha vida.
Jonatan! Oh meu Deus, Jonatan!, Cristina, a mulher de James, chorou mais quando me viu. De repente eu quis sumir, ou pelo menos trocar de identidade. Ainda não entendia a situação, mas já podia supôr pelo desespero na sala.
Ela logo se esqueceu de mim e afundou nos braços gordos da outra. Acho que me ver não era bem o que ela precisava no momento. Me virei para o policial, à procura de informações, já que Cristina não tinha condições de dá-las.
O que houve com James?
O policial me lançou um olhar triste.
Sinto muito, meu filho. Seu irmão… seu irmão está morto.
Parei de respirar por um minuto. Sabia que era algo com ele, mas me pegou totalmente de surpresa. James não tinha nem 30 anos.
Como assim?
Sua mulher o encontrou morto no porão, duas horas atrás. Ele se matou com um tiro na cabeça.
Tremi com essas palavras. Suicídio? Como era possível? Eu vinha pensando nisso… e foi ele que… Como era possível?
O policial continuava me olhando, então voltei a fazer as perguntas necessárias.
Ele não deixou nenhum bilhete, carta?
Ele deixou um papel com um texto escrito. Não soubemos identificar o que quis dizer, está um pouco confuso. Mas pelo o que a sra. Cristina me disse, não havia motivos para o suicídio. Falou que ele estava até mais feliz esta semana. Mas creio que o senhor já sabia disso, claro, é irmão do sr. James.
O policial pareceu sincero ao dizer as últimas palavras. Claro que eu não sabia quase nada da rotina do meu irmão, que dirá seu estado de espírito. Neste momento mesmo não me sentia exatamente mal pela morte dele. Só muito surpreso.
Você acha que pode ter sido assassinato?, perguntei, porque assim não soaria tão estranho.
Não creio. O casal só tinha uma chave do porão, que foi usada por James. A arma era dele e não há sinais de arrombamento ou violência.
Agradeci o policial e pedi para ver a tal história que James escreveu. Ele me indicou a mesinha ao lado do sofá e fui até lá. Cristina dormia serena quando me inclinei sobre ela para alcançar o papel, ao seu lado.
Era um texto curto, mais um rascunho. Li num instante e depois reli e reli. Sem ninguém ver, guardei o papel no bolso, para copiar em casa.
James escrevia melhor do que eu.

Eu não quero magoar você

domingo, 5 de abril de 2015

            El grito nº 3, Oswaldo Guayasamín

Eu sou uma pessoa ruim.
Mesquinha, ranzinza e depressiva, segundo você (e não, eu não gostaria de ser minha amiga).
Queria que não tivesse razão.
Queria ser uma pessoa boa e gentil.
(Quem sabe desta forma eu te traria alguma felicidade)
Mas eu sou ruim, cansada e perdida.
Entendo o porquê de me afastar.
Venho te chateando com os meus problemas de histeria.
Eu, que deveria te proteger disso. Que deveria ser uma amiga amorosa.
A melhor parte de mim desapareceu.
Desejo que ela volte para oferecê-la a você.
Porém, sou destrutiva. Não controlo os sentimentos, por mais horríveis que eles sejam.
Sinto que o decepciono a cada dia. E você é a única pessoa que eu não queria decepcionar ou magoar.
Vou tentar mudar mais uma vez.
Mas sei que se não conseguir, terei que ir embora.
Somente assim eu poderei fazê-lo realmente bem.

Amor #2

domingo, 26 de outubro de 2014


Você me abraça. A forte pressão dos nossos corpos me faz perder a respiração por dois segundos, mas é algo reconfortante. Você é absolutamente lindo, mesmo olhando fixo e sorrindo como se me desafiasse a desviar o olhar. Mas tento não desviar. Continuo esperando que diga alguma frase, e é aí que você me beija. Não beijei muitas vezes, mas sei que seus lábios são o que há de melhor no mundo. Sei que o beijo é doce, quente e devastador. Sei que vai parar na cama. E para. 

Você é carinhoso e engraçado. Paciente e preocupado. Sua presença é a própria felicidade. Eu o adoro tanto que me entrego sem pensar. Sou sua e quero sentir seu gosto, quero senti-lo dentro de mim. E quando isso acontece, parece que meu corpo foi feito para você. Cada curva alegra-se com seu toque e, embora fique tensa em certos momentos, suas palavras deixam-me calma. Você sabe o momento de acelerar ou ir mais devagar. Estamos tão próximos e nossas bocas se encontram num beijo quase desesperado, o suor pregando nossas peles. Quando você goza, me aperta ainda mais. E fica tão lindo nessa hora, tão lindo... 

Você sorri ao sair de mim e eu também. E sorrio pelos minutos seguintes, enquanto nos olhamos e conversamos. Desejo ficar ali ao seu lado por todo um dia, assim poderia guardar cada detalhe e acariciar sua barba bagunçada; poderia observar seu sono e ver suas pálpebras tremerem por algum sonho; poderia até tentar adivinhar o que sonhava, ou simplesmente colocar minha mão delicadamente em seu rosto, te esperando acordar. 

Contigo não há certo ou errado. Não há bom ou ruim. Seus olhos dizem tudo que preciso, me oferecem um lugar para morar. Você me completa, com toda sua imperfeição. É a mudança mais bonita que aconteceu na minha vida.

Eu te amo, até o fim do mundo.

O Homem

quinta-feira, 13 de março de 2014

No to be Reproduced, de René Magritte


Sua autoconfiança é totalmente insuportável, mas também admirável.
Você persevera nesta vida que é uma luta contra nós mesmos e os outros.
Não tem receio de errar porque sabe que os erros são grandes armas.
Tornou-se forte assim, adquirindo experiência com as dores e alegrias.
Todos o olham com assombro e se perguntam se possui algum segredo.
Todos o invejam. Todos o querem. Nem que seja por um minuto.
E você se ri, escolhendo os mais fortes para andarem ao seu lado e os mais fracos para posteriormente destruir. E vice-versa.
Seu plano não é conquistar o mundo. É compreendê-lo. Não é encontrar a felicidade, e sim aproveitar todos os momentos que lhe são dados.
Você é singular. Adapta-se aos seus medos e os transforma. Sua maior habilidade é a ação.
Sua inteligência fascinante desarma as pessoas em um ínfimo instante, e elas atentam-se às tuas palavras, como se pudessem ser atingidas no peito.
Seus olhos leem tudo, suas mãos podem ser firmes ou suaves, seu corpo é uma muralha de carne.
Você é capaz de atos terríveis de egoísmo e gestos de extrema compaixão. Carrega a composição de todas as contrariedades humanas e gosta disso.
Você é um espelho inquebrantável que parece refletir algo importante, mas no fim esconde mistérios ainda maiores.







Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
Gostou desse layout? Então visite o blog Julie de batom e escolha o seu!