O Conselho dos homens velhos

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

– Atenção… atenção! Senhores, por favor!

O burburinho gerado pelos velhos parou um instante. Na mesa, um silêncio ansioso instalou-se. O curador, murmurando um obrigado, continuou a falar:

–  Senhores, sabemos o motivo desta urgente reunião. Portanto, vamos direto ao ponto. O Sete, que Deus o tenha, não nomeou ninguém antes de morrer. Nem mesmo uma indicação. Então, segundo nosso estatuto, deve-se fazer uma votação para eleger o novo presidente.

Todos no Conselho já esperavam isso. Dezoito cadeiras rangeram ligeiramente, as pessoas estavam nervosas. Não conseguiram absorver plenamente o que o curador dissera, pois alguém levantou-se, atrapalhando seus raciocínios enferrujados.

– Uma votação é longa demais. – Nove falou, voz e mãos trêmulas. Tinha mal de Alzheimer e várias outras dores corporais que curvavam suas costas.

Outras vozes juntaram-se a dele, em concorde. De nada adiantava uma votação, se poderiam morrer a qualquer minuto. Os velhos voltaram a discutir, primeiro para serem ouvidos em meio a balbúrdia. Depois, começaram a brigar mesmo, quase enérgicos. Era de assustar o modo como aqueles idosos, tão insignificantes, gritavam uns com os outros por um cargo que – em meses, talvez dias – logo perderiam. Porém, na velhice sempre agrega-se um pouco de loucura.

– Como sou o mais velho, devo ser o presidente! – O Vinte exaltou-se.

– Todos nós somos velhos! – Cinco exclamou, o dedo em riste.

– Mas eu sou mais! – e assim continuavam, a concordância transformada em discórdia.

O curador suspirou, cansado. Pigarreando alto, tentou novamente chamar a atenção, mas o pigarro virou uma tosse convulsa. Tirou um lenço de seda do bolso, escarrando. A seda manchou-se de sangue. Resolveu tomar medidas imediatas, ou era ele quem não sobreviveria a esta reunião.

– Senhores, por favor, mais respeito! Se continuarmos assim, não chegaremos a nenhum lugar. Ouçam-me! Somos uma raça especial. Quem, além de nós, já completou mais de dois séculos? Por favor, por favor, menos barulho. Restaram pouco de nós, eu sei, somente dezenove. Mas é exatamente por isso que devemos eleger com calma nosso próximo representante e colocar alguma ordem aqui. – ele tomou fôlego antes de lançar a última frase: – Eu tenho uma solução.

Eles finalmente calaram-se. Como era de se esperar, um ou dois caíram da cadeira, mortos. Ataque do coração, derrame, tanto fazia. Eram tão velhos que pareciam múmias.

– Um sorteio! – o curador disse, seus lábios erguendo-se num sorriso grotesco. – É rápido, não toma muito tempo. Colocamos os nomes em um papel e sorteamos, fácil.

Grande parte do Conselho aceitou esta solução. Aliviado, o curador riscou os nomes na ata da reunião, do Um ao Vinte. Exceto, claro, o Sete e os dois que morreram. Rasgou o papel em pequenos pedaços e colocou-os no jarro sem flores em cima da mesa.

Tampou o objeto com as mãos e o balançou, os olhos dos velhos grudados nele. Ao contrário de antes, só escutava-se as respirações pesadas, pausadas. O Vinte cochilava.

No que foi uma eternidade para eles, o curador retirou um papelzinho qualquer. O desdobrou, solene, e leu o nome aos presentes:

– Vinte!

A maioria amaldiçoou  a escolha. Os mais falsos quiseram cumprimentar o velho.

– Ele ainda está dormindo?

Não, estava morto.

(Elaine Rocha)



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